SABADAL de 16JUN2012, com sangue e tudo!
Conforme se previa o céu estava cinzento. Mesmo assim os Montis foram saindo das tocas e junto às 8 h já se mexiam na Torre do Meio os três que ali têm a base. MontiVictor, este cronista que vos fala, afadigava-se a tentar montar a roda traseira que, "arranjada" na véspera, se apresentou completamente em baixo na hora da saída. Com a ajuda amável e pronta de MontiEmídio a coisa ficou em condições e seguimos os três a caminho da Sede/Cervejaria/Restaurante Estrela, a próxima instituição portuguesa a ser resgatada pela troika (não sabiam?... podem acreditar!). O paciente Belarmino não dura até à eternidade! MontiCadilha avia o seu cafézinho e chega o nosso benjamim MontiLuis. E para onde se vai? Casal das Areias, Cabeço da Rosa e ao forte, do Arpim, sim; depois logo se vê. MontiVictor, em ritmo de convalescença, fica para trás, como é de bom tom, e vê a companhia desaparecer sucessivamente: Luis e Cadilha primeiro, Emídio esfuma-se a seguir, mas Victor persiste no esforço e lá sobe até ao alcatrão da rampa do Cabeço da Rosa onde o espera um Luis atencioso (Então não quer parar um bocadinho?) mais o par da Torre. Siga! Atacamos a estrada e sobe-se a velocidade senior o que falta para o cimo, seguindo o caminho para o Forte do Arpim, siiiim, onde o Luis ouve algumas informações históricas sobre as Linhas de Torres e eu tiro a primeira fotografia com a lente cheia de humidade (máquina em má posição no bolso de trás da minha camisola, claro). Bons minutos de cavaqueira e fotografias para descermos de seguida à vinha que sobe para o estradão de Vila de Rei. Mais uma vez MontiVictor mostra que é um senior e, quando falece a perna, empurra a bicicleta à mão, enquanto o pessoal espera com muita consideração! Descemos com prazer e já decidimos que rumamos à Quinta do Boição, Luis não conhece. Lá nos metemos no trilho que dá para a quinta e o prazer reaparece, mesmo sem o sol a apertar; o arvoredo cobre-nos, o trilho convida-nos e, ora em piso macio ora sobre pedras exigentes, chegamos à ponte da entrada. E apontamos para subir a vinha à nossa direita, ziguezagueando com delicadeza e sabedoria, até que deparamos com uma saída no cimo que nos põe no estradão, mesmo em cima da estrada que vai para Bucelas; sim ou não? Não vamos, não! Mas antes há que dizer que o talude de saída da vinha é difícil de subir em cima da bike! Todos acabaram empurrando a bicicleta à mão, menos o Luis que fez ali a sua primeira demonstração: senhor duma técnica avançada e leve como um benjamim, despachou a rampinha... assim!... E regressámos ao caminho que nos levara à quinta, passando a repisar trilhos já explorados em passeios do Alvercabike, subindo pela margem esquerda da ribeira que vai dar ao Boição. Entrámos por uma vinha onde um casal tratava de sulfatar, ela em cima da caixa da camioneta fazia as caldas e ele, de máquina às costas, soparava-as para as videiras. A senhora lá nos disse que havia caminho em frente e eu, com a alegria, arranquei mal e tive de agarrar-me ao taipal, senão caía.
Prosseguimos a passeata até que uma vedação nos barrava o caminho. Feita a inevitável exploração, encontrámos passagem fácil e empurrámos as bikes sem problemas, entrando a pedalar logo de seguida num trilho de encosta que nos conduziu a mais subidas e descidas, tantas que a minha memória não aguentou e perdeu-lhes a sequência. Numa das vezes (quando é que terá sido?) apresentou-se-nos uma subida daquelas que convidam "Mostra que és gente e avança!" mas que, passada a primeira vintena de metros, se temos o azar de parar, nos obriga a fazer o resto de bicicleta na mão e pés no chão. Foi acontecendo assim, com o MontiCadilha, com o MontiEmídio e, chegada a vez do nosso MontiLuis, não é que ele arranca por ali acima e faz tudo de uma ponta à outra?!!! Não quero exagerar mas estou seguro que é para aí centena e meia de metros bem inclinados, atravessados de valas para todos os gostos, e deixando às rodas umas estreitas faixas saibrosas de derrapagem quase garantida, tudo isto acrescentado de arbustos ramosos à altura da cabeça, que obrigavam a desvios constantes e arriscados. Vi e acreditei! Ficámos mais inteirados da fibra do nosso benjamim! Que, há que dizê-lo, junto à ponte do Boição tinha cedido à lei da gravidade de modo inesperado, dando ocasião a umas bocazinhas de fraterna gozação.
Estou a exagerar, meus amigos, a crónica já está crescida. Mas quem é que pode esquecer que, no cimo da subida para as cercanias de Santiago dos Velhos, nos aparece a desejada oportunidade para uma reconfortante chinchada. Cadilha e Luis, desatentos destas particularidades, iam lá à frente, em conversa amena, enquanto Emídio e eu puxávamos ainda pela levezinha, estradão acima. Aparece-nos o primeiro damasqueiro, tudo verde, o segundo, já pintalgado de frutos amarelinhos mas escasso. Até que, mais acima, nos salta ao caminho uma árvore generosamente carregada. Chamámos os dois distraidos e lá estivemos a aviar-nos, com prazer enorme, de damascos (ou serão alperces?) maduros, maduros-rijos e rijos, se a tanto chegava a variedade da oferta. Os descobridores foram os verdadeiros comedores, levando alperces (ou seriam damascos?) no papo e também no saco; MontiCadilha controlou-se e o Luis é sempre frugal. Mas foi um momento de descontracção agradável, sem mácula. Ponto de vista nosso, claro. Não entrevistámos o dono para sabermos que opinião ele tinha.
E entramos na última fase do passeio. Decidiu-se apontar ao Cabeço da Rosa, desviar para a direita no Morgado Lusitano, seguindo para o Forte da Aguieira (o primeiro da segunda linha) para depois descermos o "singletrack" que vai dar ao Casal das Areias. O qual o cronista já tinha ouvido referir mas não tinha o prazer de conhecer. Como podem ver na segunda fotografia lá em cima, no início da crónica, houve reunião preparatória e tudo. Esgotaram-se os depósitos de água e, com o Luis à frente e o cronista a seguir, avançámos para o "singletrack". Trilho - na terceira fotografia podem ver como se apresenta - a exigir atenção mas pede-a gradualmente, não é brusco. E até está sinalizado, por enquanto, num cotovelo perigoso que se apresenta passada uma centena de metros. Aí MontiEmídio passou-me à frente, eu tinha desmontado, e lá seguimos, MontiCadilha descendo agora imediatamente atrás de mim. Ocupado em travar sem derrapar e em escolher a boa trajectória, descurei um tanto o apoio nos pedais, imprescindível, e ia descendo mal apoiado no pedal direito, prejudicando-me a concentração. E assim cheguei a um ressalto que exigia uma volta de pedaleira que não aconteceu. Esbarra a roda da frente, desequilíbrio total, vou ao chão, inteirinho, e a boa da bike, embalada, passa-me por cima e cai-me em cima do capacete. Sinto um golpezito na cara e levanto-me sem dificuldade, já com MontiCadilha a chegar. Ele confirma que sangro de um golpe junto à sobrancelha mas não há mais prejuizos. Reunião do grupo, Emídio aplica um penso rápido na ferida, a bike está OK, então vamos lá embora, pessoal! Continuámos a descida, o cronista a cortar-se sempre nos pontos de maior dificuldade, os outros Montis na descontracção de quem está bem e confia em que tudo está bem com o "beija-flor" a quem calhou a rifa da queda mais espectacular do passeio.
Acabámos a passar pelo túnel d' "o Barco" e despedimo-nos do Luis na rotunda da Omnia, atravessando sem novidades a feira e a baixa de Alverca, animadas de gente e já com o sol a aparecer. Registei 36,2 km andados (sim, do meu lado não foram muito pedalados!) a uma média final de 11,6 km/h e com uma máxima de 58,6 km/h.
Estou bem, o golpe há-de deixar cicatriz, e bom domingo para todos. Que os holandeses chuchem no dedo é o meu voto especial de final de crónica.
Abraikes.
Victor
Fotos de MontiCadilha
Filme do MontiCadilha
Aproveito para publicar os
Momentos MontiBikers na Ecopista do Dão
Filme do MontiEmidio